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bandida, cotidiano, felicidade, lucro, pessoas, revolta, rotina, sociedade, tarefas, tempo, trabalho, tristeza, vida
O despertador toca. Susto, se mexe, “soneca”. De novo. Acorda! O relógio marca seis horas e quinze minutos da manhã com sensação de quatro. Dormir? Não! Inventa sequência para despertar: uma volta na sala, um olhar pela janela, o primeiro pensamento do dia “o que será que vem pela frente?”. O banho foi na noite anterior. O café da manhã já não dá vontade de tomar: menos tempo de sono para pouca comida ingerida. O ônibus passa em 5 minutos. Hora de sair. Na casa escura tudo é deixado como está há dias. Tempo não há para arrumar. Afinal, o ônibus já vai passar. Um olhar de remorso para os bichanos, que são deixados para trás, e Pah! Pessoas. Carros. Barulho. Sinal de caminho certo. Será? Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Do caminho tedioso só nos resta esperar: ler, admirar, pestanejar e até xingar, mas a troco de quê? o jeito é relaxar. Afinal, quem inventou a locomoção, o automóvel e o asfaltar não foi o homem que queria trabalhar? Não há conversa, não há troca. Só há olhar: de inveja, de estranheza, de nojo, de flerte… há má educação, e respeito também. Mas não há prazer. Não, não há. Ainda no caminho, pode-se observar diversas lojas, comércios e não sei o que lá. Tanta variedade para quê? Porque isto está lá? Mais uma maneira do pão de cada dia ganhar. De lucrar. Objetivo? “Sei, não, véio… tá me dando um lucrin, sabe…”. Também tem hospital: sujo, de aparência triste, filas, problemas, dores, nenhuma solução, má vontade, desprezo, agonia… é possível ver nuvem negra cobrir. Morte levar. E gente que ri; colégio: sem esperança, tempo perdido, não há material, não há estrutura, tristeza… os profissionais só querem saber se o salário caiu certinho no final do mês. Futuro? “nem sei… não vou estar mais aqui, né chefe”; polícias: tem em todo o lugar, só se vê cara feia, má vontade, poder demais, não são do bem, como poderiam? não tem estudo para cuidar. Mandam e não mandam, assustam e não resolvem, quem lhes pagar mais, ganha; e até cemitério: mortos, passado, frieza, desnecessidade, espaço imenso de terra ocupado por simplesmente nada, já era, já foi… porque não construir hospital e escola públicos no lugar? Um grande espaço de reciclagem? Algo útil, por favor! Já é hora de descer do ônibus. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Hora de trabalhar, ou pelo menos começar. Tarefa que dura o dia inteiro: oito horas de luz que não são recebidas, nem ao menos vistas. Objetivos, metas, tópicos, planos… que nem sequer tem horizonte a alcançar. Porque uma única empresa quer crescer tanto? Não há para onde crescer. Um trilhão de empresas. Um trilhão cresce? Pensa! Se uma cresce, outra perde. Não é óbvio?; Insisto, crescer para quê? Para onde? Lucro! Lucro? Para fazer o quê com o lucro? Lucro de quantos? Nossa! Até que enfim é a hora do almoço. Fome? Não sei. É hora do almoço. Tempo contado. Cronometrado. Déjà vu: são todos iguais. Almoço para se alimentar. Talvez um doce para animar. É hora de voltar. Hora de trabalhar, ou pelo menos continuar. Não importa se acabou, você tem que ficar. Prisão temporária não deixa de ser. A diferença é que no final tem salário para rasgar. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Inconformação continua. Está latente. Bate forte. Busca por resposta. Sensação de que algo está errado. Não para! Porque o lucro, mesmo? Compra mansão, carros, maquiagens, festas caras, roupas de grife, carteiras & relógios & canetas de aproximadamente doze mil reais. Ops, chamam a atenção no trabalho: estava pensando nestas coisas, errou, se desculpou. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. O tempo corre. Robô. Máquina. Iniciativa e ação maquiadas. São ordens. Estão no roteiro. Cansei! Mas por quê continuar a fazer isto? Ah! me lembrei: produtos de doze mil reais? Ué! Carteiras não são carteiras, que servem para guardar o dinheiro, cartão e cheque? Relógios não são relógios, que servem para mostrar a hora? Canetas não são canetas, que servem para escrever? Objeto. Função. Objeto. Função. Objeto Função. Morte. Objeto? Função? Será que vale a pena este tal de lucro? Ah! sim. Lucro de quantos? De um! Do dono. x = (Sol + vida + tempo + oito horas + amigos + família + amor + felicidade + conhecimento + passeios + relacionamento + troca + vida pessoal); y= (obrigação + necessidade + “objetivos” + “metas” + “tópicos” + “planos” + agonia + stress + gastrite + ataque cardíaco + cancer + derrame + nervoso + tendinite + depressão + tristeza + falso + dor); z = (lucro + mansão + mercedez + bmw + swarovski + rolex + louis viton + mont blanc, tudo para uma pessoa). Y – X = Z! Bingo! O que fazer? Eu sabia que estava errado. O que fazer? Contar para os outros. O que fazer? Ir até o Palácio do Planalto. O que fazer? Palestras. O que fazer? Rebelião. O que fazer? Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Ufa! Contribuição à sociedade terminada. Hm, à sociedade? O que ela me dá em troca, mesmo? Melhor não pensar: desespero. Voltar. Um pouco de paz. É a minha hora: tempo para mim. Amigos? Família? Lazer? Diversão? Não! Cansaço. Fadiga. Preguiça. Restam apenas quatro horas para me envolver com qualquer uma destas vontades: qual escolher? quero todas. Não dá. Então deixa. Reveza? Nem todos podem. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Melhor ir descansar, pois o amanhã não vai tardar, e tudo vai recomeçar. Desespero. Casa ainda para cuidar. Tarefas à executar. São apenas quatro horas, melhor correr. “Sai da frente seu filho de uma puta, preciso chegar logo em casa… tenho quatro horas para ver a minha família”. Que pena! Entre as buzinas já se foram duas horas. Restam duas horas. Finalmente! O merecido momento de alegria com pessoas que amo, liberdade para fazer o que gosto e o que quero, trocar ideias e conversar, fortalecer os relacionamentos, tv, praticar o riso e… Oquê? Já são dez horas? O tempo acabou. Comer e tomar banho são necessidades. Vida pessoal? Problemas pessoais? Não se pode resolver. Finja que não os tem. O tempo é apertado. Nove horas no mínimo foram perdidas. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Contas? Pagamentos? Roupas? Faxina? Não dá para olhar. Quem vai cuidar? Pensar, pensar e sem solução desistir e dormir, pois já são meia noite e amanhã tudo isto vai me acordar. Animação? Um dia melhor que o outro? É preciso pensar para não pirar. Não há tempo para pensar. Vista o cabresto e vá. Que confusão, mas vamos lá para mais uma monotonia.